quinta-feira, 29 de setembro de 2011

O Ermo da Esperança

   Entre descontextos de fábulas infantis,
   descobri que o mundo é dos gigantes.
   O dantesco lava a alma e sucumbe os infernos ali construídos.
   O ermo dos desvalidos é tão grande que sequer se pode imaginar.
   O mundo não tem graça,
   e o ser humano é demasiadamente cruel
   suficientemente egoísta para desdenhar de tudo,
   e calcar os planos mais malígnos.
   só lhes falta coragem
   e é sua falta que impede uma carnificina total.

   O medo é o pai do homem.
   É o que corrompe as mentes
   para que a humanidade não se desintegre em si mesma.
   o medo do mais forte,
   o medo do mais sábio,
   o medo da morte,
   o medo do operário,
   o medo dos poderosos,
   o medo dos maltratados.
   Medo no inconsciente coletivo imundo que apodrece nas hipófises dos glossários.

   O retrato é três por quatro
   mas a mentira é infinita.
   Já não posso mais viver com tanta injustiça.
   Não quero morrer de fome.
   Não quero ser artista.
   Não sou mais que um poema.
   Não sou mais que uma alma aflita.
   Como uma novena que se cansou de ser lida.
   Trago um verso de amargura,
   destroçado em vozes nítidas:

   Salve o pobre, o maltrapilho,
   morra a guerra e as aventuras,
   corra a noite dos seus bandidos
   que afloram em sua mente escura.
   Faça uma prece pague um castigo
   jure a deus que vos ama
   minta à sorte que tens um rito,
   amar a dor e colher esperança
   que um dia ao norte terás abrigo,
   um pé de flor e uma vida mansa.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O encontro do rapaz

  O rapaz apareceu tranquilo, eloquente...
  não sabia que a veria, mas sabia que a possibilidade era real.
  foi entrando reto, ciso, ligeiramente encabulado.
  como de costume, mesmo sabendo que uma hora a veria,
  não ousou se preparar para este momento.
  Foi então que subiu o último degrau.
  Encontravam-se finalmente no mesmo piso,
  a possibilidade que antes parecia remota
  agora era mais certa que os pingos dos is.
  Não tardou muito ha seus olhos mirarem aquela pele alva
  não poderia existir no mundo coisa mais bela
  usava um óculos quadrado que lha dava um ar de intelectual
  e tinha um sorriso de canto de boca sem descrição
  sua voz soava como a nona sinfonia
  e tuas sardas eram analiticamente perfeitas
  tinha um quadril curvuso com uma bunda nem gorda nem magra
  seus seios cabiam na palma da mão sem carência e um ml a mais sequer
  tinha uma leve gordurinha abdominal
  o que lhe garantia a qualidade de mulher
  teus cabelos pareciam plumas castanhas
  e sua boca era de um desenho místico
  teus olhinhos eram daqueles que não se cansa nunca de olhar
  e teus dedos de menina sapeca com unhas pintadas.
  Divinamente perfeita para o rapaz.
  Nesse instante seu coração já sondava em sair pela boca
  não sabia o que fazer para se aproximar dela
  mas como não conhecia mais ninguém naquele andar
  e não parecia sensato estar ali sem nenhum motivo
  respirou fundo até conseguir canalizar seu nervosismo
  enfim estava pronto.  
  Sorrateiramente aproximou-se como um cavalheiro
  e lha perguntou:  - Lembra-se de mim ?
  ela respondeu como uma princesa: -Sim
  e findou-se assim aquele encontro.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

marmita da D. Jandira

 cabelos encaracolado
 cor de folhetim
 olhos aveludados
 com ar de cataclisma
 orelhas desconsertantes
 voz que não sai

 já ia ela...
 toda vislumbrosa
 como se fosse a mais vistosa
 deusa da beleza
 e da nobreza de cetim

 vai lá saber
 o que a fazia tão feliz
 se todo dia ela sofria
 para aprontar a marmita
 com arroz, feijão, galinha
 e um pouco de farinha
 só para servir

 todo dia dona Jandira
 preparava o que servia
 para ver seu filho irresponsável
 desdenhar do seu penar

 e só por isso vos pergunto
 como pode um só defunto
 viver sem reclamar?