Lembro-me de você
serelepe, com um vestido rodado e uma sandália rasteira enfeitada com
lantejoulas… não, não era carnaval, era réveillon… e diferente de outros anos,
já não tinha mais medo dos fogos, na verdade seus olhinhos brilhavam como nunca
ao ver as centelhas emergirem ao céu…
Eu, à época, estava
descobrindo um mundo novo, cheio de sensações novas e energias que jamais
poderia imaginar que existissem… era tanta emoção que o próprio Buda em pleno
nirvana, na mais ingênua das contradições, sentiria inveja de mim.
Fazia três anos que
estávamos juntos… mas sem a menor das dúvidas, foi ali nosso apogeu. Vivemos
num só instante os maiores dramas e a mais suprema felicidade. E teus olhos…
teus olhos olhavam sempre tão profundamente os meus…
Passaram-se dois
meses...
Agora sim era
carnaval, já não estavas mais tão serelepe e nem seus olhinhos brilhavam como
outrora… seus olhares, agora quase sempre de soslaio, confundiam meu coração; e
diferente dos outros anos, nesse ano o carnaval não teve máscaras. Diria até
que um dos polos deve ter trocado o sentido e o que antes era grude, agora era
repulsão.
Meu mundo saiu da
zona de conforto… para o desconforto extremo provocado pela perda de uma
paixão. Não sabia me dar com a dor que se transformava do estado psíquico para
o físico num turbilhão de vezes.
Consolava-me nos Bardos tibetanos…
Consolava-me nos Bardos tibetanos…
Faz três anos que o
amor adormeceu e o que me resta é uma sensação senhora de gratidão e carinho
por tudo que meu ser aprendeu: a reinvenção do eu a cada momento, sem nunca
perder a essência; o reconhecer aquilo que te faz bem e valorizar cada vez mais
a simplicidade; a libertação de qualquer res de preconceito e a crença
no ser humano como principal alicerce de mudança; a ser reticentes e saber
ouvir mais do que falar; a fazer o certo porque é certo e não ter medo do novo
porque o novo é tudo que temos para aprender…
…
que venha a
respublica!
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