segunda-feira, 30 de maio de 2011

O dito não dito



 Um oba ao abstrato
 um viva ao obscuro
 quero me esconder
 por entre as palavras
 quero viver
 num quarto escuro

 Catavento catapora
 pararaio paralama
 maria vai com as outras
 maria sem vergonha
 faço parte do teu muro
 um rabisco de pamonha

 Entre pratos sem defeitos
 paranóia ao teu lado
 um mar em cada leito
 um califa no terraço
 faço arte no meu dia
 um risco desperdiçado

 Feito um vídeo em preto e branco
 o violinista no telhado
 feito o perto muito perto
 um fotografo mal assombrado
 me roubou o dia e a noite
 um caso a ser pensado

 Como um livro no poleiro
 a dor do machado amado
 um Capitu-lo sorrateiro
 a voz do Ser amago
 um elefante de presente
 um nietzsche apavorado

 O que me dizes? o que faço?
 Boom! zalaieta!
 curumins entre amigos
 cartolina de outro planeta
 pinto o corvo e o corvete
 pinto a caça e a preta

uma música aos ouvidos
uma lata de cerveja
não enxergas o que digo
não escuta o que veja
papaninfas corolários
páginas quebracabeça

 Coisas sem sentido
 coisa de chumbeta
 análogos desvairados
 retratos sem cabeça
 o belo é corrigido
 o amor a gente inventa.

terça-feira, 17 de maio de 2011

UnderWorld


 não amo ninguém
 tenho um coração de pedra
 os olhos secos 
 feito ar do sertão
 a única coisa que tenho 
 é uma coqueluche suburbana
 quem vê, não da mais que 3 dias
 mas já há mais de um ano que a cultivo
 a base de pão, café e miúdo
 e assim se passa cada dia
 de feira em feira
 de rua em rua

 não gosto de ninguém
 meu rim já não presta
 meu nariz está em sangue
 como um cálice de campari
 agora tenho um cachorro
 que me segues há esperar meu dia
 e apesar de saber 
 que queres me ver morrer
 não lhe quero mal...
 não lhe quero coisa alguma
 apenas o deixo me seguir
 como se ele não existisse

  não sinto mais nada
  corpo putrefado 
  mente desconexa
  não tenho mais cachorro
  não tenho nem pensamento
  o miúdo não veio
  o pão não se alcança
  do café nem o cheiro
  da calçada veio a fama
  capa do jornal dizia  
  morre sentado com a mão ao queixo 
  feito um Rodin. 

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Imagina

  Pensas que sois mulher
  quando não passas de uma linda criança
  deslumbra tudo o que quer
  jura que és branca

  sonhas sonhos infantis
  brincas de ser vaidosa
  pensas que és atriz
  não sabes que és uma rosa

  sois um amuleto perfeito
  daqueles que se quer sempre junto
  vives grudada no peito
  não se afastas nem por um segundo

  sois todos os amores
  transformada em um só
  sois a vida sem pudores
  o efeito dominó

  sois o vento rarefeito
  a dúvida de tomé
  sois a candice e o despeito
  a fábula da fé

  sois a caixa de pandora
  tudo que eu sempre quis
  não sois real... nem pudera
  mas mesmo assim faz...
  minha vida parecer mais feliz

terça-feira, 3 de maio de 2011

Tragicômico

 hoje eu acordei sátiro
 vendo graça na desgraça
 pensando em coisa de amor

 hoje acordei chato
 com o coração gelado
 e o sangue agogô

 hoje acordei transtornado
 pensando em meus vinte anos
 vivendo meus setenta e três

 hoje acordei enojado
 por lhe ter dedicado
 meu disco de vinil

 hoje acordei desalmado
 com um gozo engraçado
 de te achar vil

 hoje eu nem acordei
 sonhei sonhei sonhei...
 Sófocles Ésquilo Eurípedes...

 quero dizer-lhe numa peça
 que teus belos traços
 confundem teu criador

 catapundas melindrosas
 arcabouços sem futuros
 jupiter e equador

 vai ser engraçado
 subir ao teatro
 e te ver chorar de dor

 vai ser engraçado
 te ver perder
 mais um grande amor...